Esta festa começou a ser conhecida no Ocidente, a partir do
século X, com o nome de Purificação da bem-aventurada virgem Maria. Foi
incluída entre as festas de Nossa Senhora. Mas isto não totalmente correto, já
que a Igreja celebra neste dia, essencialmente, um mistério de nosso Senhor. No
calendário romano, revisado em 1969, o nome foi mudado para "A
Apresentação do Senhor". Esta é uma indicação mais verdadeira da natureza
e do objeto da festa. Entretanto, isso não quer dizer que subestimemos o papel
importantíssimo de Maria nos acontecimentos que celebramos. Os mistérios de
Cristo e de sua mãe estão estreitamente ligados, de maneira que nos encontramos
aqui com uma espécie de celebração dupla, uma festa de Cristo e de Maria.
Significado da festa
A festa da Apresentação celebra uma chegada e um encontro; a
chegada do Salvador esperado, núcleo da vida religiosa do povo, e as
boas-vindas concedida a ele por dois representantes dignos da raça eleita,
Simeão e Ana. Por sua proveta idade, estes dois personagens simbolizam os
séculos de espera e de fervoroso anseio dos homens e mulheres devotos da antiga
aliança. Na realidade, representam a esperança e o anseio da raça humana.
Ao reviver este mistério na fé, a Igreja dá novamente as
boas-vindas a Cristo. Esse é o verdadeiro sentido da festa. É a "Festa do
Encontro", o encontro de Cristo e sua Igreja. Isto vale para qualquer
celebração litúrgica, mas especialmente para esta festa. A liturgia nos convida
a dar as boas-vindas a Cristo e a sua mãe, como o fez seu próprio povo de
então: "Ó Sião, enfeita teu quarto nupcial e dá boas-vindas a Cristo Rei;
abraça a Maria, porque ela é a verdadeira porta do céu e traz o glorioso Rei da
luz nova"2.
Ao dramatizar desta maneira a lembrança deste encontro de
Cristo com Simeão, a Igreja nos pede que professemos publicamente nossa fé na
Luz do mundo, luz de revelação para todo povo e pessoa.
Na belíssima introdução à benção das velas e a procissão, o
celebrante lembra como Simeão e Ana, guiados pelo Espírito, vieram ao templo e
reconheceram a Cristo como seu Senhor. E conclui com o seguinte convite:
"Unidos pelo Espírito, vamos agora à casa de Deus dar as boas-vindas a
Cristo, o Senhor. O reconheceremos na fração do pão até que venha novamente em
sua glória".
Refere-se claramente ao encontro sacramental, ao que a
procissão serve de prelúdio. Respondemos ao convite: "Vamos em paz ao
encontro do Senhor"; e sabemos que este encontro será na eucaristia, na
palavra e no sacramento Entramos em contato com Cristo através da liturgia; por
ela temos também acesso a sua graça. Santo Ambrósio escreve deste encontro
sacramental em uma página insuperável: "Te revelaste face a face, ó
Cristo. Em teus sacramentos te encontro".
Função de Maria. A festa da apresentação é, como dissemos,
uma festa de Cristo antes do que qualquer outra coisa. É um mistério de
salvação. O nome "apresentação" tem um conteúdo muito rico. Fala de
oferecimento, sacrifício. Recorda a auto-oblação inicial de Cristo, palavra
encarnada, quando entrou no mundo: “Eis-me aqui para fazer tua vontade".
Aponta à vida de sacrifício e à perfeição final dessa auto-oblação na colina do
Calvário.
Dito isto; temos que passar a considerar o papel de Maria
neste acontecimentos salvíficos. Depois de tudo, ela é a que apresenta a Jesus
no templo; ou, mais corretamente, ela e seu esposo José, pois ambos pais são
mencionados. E perguntamos: Tratava-se exclusivamente de cumprir o ritual
prescrito, uma formalidade praticada por muitos outros pais? Ou guardava uma
significação muito mais profunda que tudo isto? Os padres da Igreja e a
tradição cristã respondem que sim.
Para Maria, a apresentação e oferenda de seu filho no templo
não era um simples gesto ritual. Indubitavelmente, ela não era consciente de
todas as implicações nem da significação profética deste ato. Ela não
contemplar todas as conseqüências de seu fiat na anunciação. Mas foi um ato de
oferecimento verdadeiro e consciente. Significava que ela oferecia seu filho
para a obra da redenção com a que ele estava comprometido desde o princípio.
Ela renunciava a seus direitos maternais e a toda pretensão sobre ele; e o
oferecia à vontade do Pai. São Bernardo expressou muito bem isto: "Oferece
teu filho, santa Virgem, e apresenta ao Senhor o fruto bendito de teu ventre.
Oferece, para reconciliação de todos nós, a santa Vítima que é agradável a
Deus'3.
Há um novo simbolismo no fato de que Maria coloca a seu
filho nos braços de Simeão. Ao agir desta maneira, ela não o oferece
exclusivamente ao Pai, mas também ao mundo, representado por aquele ancião.
Dessa maneira, ela representa seu papel de mãe da humanidade, e nos lembra que
o dom da vida em através de Maria.
Existe uma conexão entre este oferecimento e o que
acontecerá no Gólgota quando serão executadas todas as implicações do ato
inicial de obediência de Maria: "Faça-se em mim segundo tua palavra".
Por essa ração, o evangelho desta festa carregada de alegria não nos exime da
nota profética: "Eis que este menino está destinado para a queda e
ressurgimento de muitos em Israel; será sinal de contradição, e uma espada
atravessará tua alma, para que sejam descobertos os pensamentos de muitos
corações" (Lc 2,34-35).
O encontro futuro. A festa de hoje não se limita a nos
permitir reviver um acontecimento passado, mas nos projeta para o futuro.
Prefigura nosso encontro final com Cristo em sua segunda vinda. São Sofrônio,
patriarca de Jerusalém desde o ano de 634 até sua morte, em 638, expressou isto
com eloqüência: "Por isso vamos em procissão com velas em nossas mãos e
nos apressamos carregando luzes; queremos demonstrar que a luz brilhou para nós
e significar a glória que deve chegar através dele. Por isso vamos juntos ao
encontro com Deus".
A procissão representa a peregrinação da própria vida. O
povo peregrino de Deus caminha penosamente através deste mundo do tempo, guiado
pela luz de Cristo e sustentado pela esperanças de encontrar finalmente ao
Senhor da glória em seu reino eterno. O sacerdote diz na benção das velas:
"Que quem as levas para enaltecer tua glória caminhemos no caminho de
bondade e vamos à luz que brilha para sempre".
A vela que levamos em nossas mão lembra a vela de nosso
batismo. E o sacerdote diz: " guardem a chama da fé viva em seus corações.
Que quando o Senhor vier saiam a seu encontro com todos os santos no reino
celestial". Este será o encontro final, a apresentação , quando a luz da
fé se converter na luz da glória. Então será a consumação de nosso mais
profundo desejo, a graça que pedimos na pós-comunh4ao da missa:
Por estes sacramentos que recebemos, enche-nos com tua
graça, Senhor, tu que encheste plenamente a esperança de Simeão; e assim como
não o deixaste morrer sem ter segurando Cristo nos braços, concede a nós, que
caminhamos ao encontro do Senhor, merecer o prêmio da vida eterna.
Fonte: acidigital
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